quinta-feira, 30 de julho de 2009

Subsolo

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Todos nós perdemos pessoas amadas.

Sou um homem nobre. Amo o mundo e as coisas ao meu redor, aceito a vida de peito aberto e a amo, acima de todas as coisas. Eu amo... Eu sinto...
Eu tenho pessoas para amar e também sou amado. A tristeza é sempre passageira e deixa aprendizado. Corro em busca da plenitude, e me esforço o máximo para isso. Um dia... Um dia, sei que conseguirei.
Tento ajudar a todos que estão a minha volta sempre. Quanto mais amizades, mais facilidade terei para vencer os obstáculos e tirar aprendizado disso.


Mentira.

É mentira...

Eu sou uma pessoa péssima. Não sirvo para ter amizades, não sirvo para amar e não sirvo para ser amado. De forma alguma.
Faço o máximo possível para trazer dor a quem me rodeia. Sentia prazer em ser grosso, ignorar e ferir quem vinha falar comigo e tentar se aproximar.
É de se esperar que tenham nojo...


Mentira.

Também é mentira...

Eu não sou assim. Eu não consigo ser assim... Eu não consigo ser um homem bom, nem ser um verme... Na verdade, nem consigo ser um homem! O que eu sou? Não sei... Não consigo ser. Eu não sou nada... Uma criação mal-sucedida da natureza, talvez... Por que acho isso?
Eu cometo diariamente o pior pecado contra a natureza. Eu desprezo a vida - completamente. Eu desprezo todas as leis naturais. Desprezo a morte, desprezo as superstições, desprezo o corpo, desprezo a mente, desprezo a mim mesmo. Isso não é inaceitável?!
Vazio... Apenas vazio. Não sei o que quero... Estou quase certo de que nessa vida, eu não quero nada. O que tenho? A dor.
Me lembrei de que sinto dor. Me lembrei há poucas semanas... Por alguns meses ela foi embora.
Na verdade, achei que ela nunca voltaria. como fui ingênuo (ou burro)... Ela sempre volta.... Sempre voltará... E sempre estará aqui, do meu lado, falando em minha cabeça e me lembrando do passado... Do lindo passado... Em que a dor era mais tênua e meus momentos de felicidade pareciam eternos!
Não voltarão os momentos de felicidade. Sabem por que?
Porque a dor e a decepção sempre estarão aqui, elas sempre aparecerão e acabarão com os raros e breves momentos felizes.

Eu tenho um péssimo defeito, ou talvez qualidade, ainda não sei... Até hoje eu gostei de pouquíssimas pessoas. Dá para contar nos dedos de apenas uma mão! E o engraçado, é que todas as pessoas que eu amei em minha vida se foram, pelo destino, pelo tempo, ou por erros meus... Eu não posso ter amigos. Não, não posso... Eles não me agüentariam. Não agüentariam tantas reclamações de um idoso. Não agüentariam se preocupar comigo... Então me isolo. Não gosto de machucar os outros com a minha dor.
E também não consigo ao menos sentir raiva de quem me machucou... Apenas choro quando lembro delas, enquanto elas vivem suas vidas e me esquecem.
Eu sou realmente só isso? Só mais um personagem na vida dos outros? Sim... Eu sou.
E não adianta falar em amor próprio - isso é uma coisa que não tenho há muito tempo. Como uma criatura como eu, que não tem temência, que se despreza e não entende nada pode ao menos pensar em se amar? Impossível. Isso me torna desumano... Isso me torna a aberração.
A minha dor... Essa dor não me traz ganho, não me traz fortuna e nem aprendizagem. Ela só me traz dor. Não sei há quanto tempo a tenho, mas isso na verdade não importa, pois a carregarei a vida inteira.
Não digo que viverei depressivo, isso também é impossível. Ainda haverão os dias em que eu estarei de bom humor, haverão os dias em que eu me sentirei bem... Mas essa dor é eterna. Não importa o quanto se tente, ela sempre volta. E cada vez que ela volta, ela machuca mais, mais, mais e mais.
Talvez estejam se perguntando como eu passei meses sem sentir dor... Na verdade, eu cometi um ato "suicida".
Já disse que não sirvo para ser amado ou para amar, e isso sempre soube. Mas corri atrás dos sentimentos, dos verdadeiros sentimentos. Nessa busca eu me senti feliz... Achei que os tinha alcançado... E pensei: "não importa se eu sofrer depois, eu vou assumir esse risco!". Tolo pensamento... Não haveria "se eu sofresse"... Eu IRIA sofrer, como é programado.
Então depois de um tempo eu bati no grande muro, no grande muro chamado "Impossível". Depois que bati nesse muro e acordei, a dor automaticamente voltou... É isso que acontece quando se tenta lutar contra sua natureza. Você se esbofeta nesse grande muro.
E então, o que eu faço? Nada... Não faço nada, absolutamente nada, pois não há nada que eu possa fazer. "Não se conserta um brinquedo que nasceu quebrado.".
Minha dor pode não ser maior do que de outra pessoa, mas a minha dor só é sentida por mim. A minha dor nunca será curada por outra pessoa. O único que pode me curar sou eu mesmo... Mas ainda não tenho, e nem sei se terei capacidade para isso. Essa é a minha mente. Esse é meu subsolo...
Sempre me dizem coisas como: "você é muito novo para estar assim", "eu não entendo sua necessidade de se isolar.", "você não está sozinho, eu estou aqui... E eu te amo."... Mas elas não me entendem. Elas não querem entender.

Quem quer se perder em sua própria mente? Quem quer parecer um louco aos olhos de todos? Quem gostaria de viver no subsolo??? NINGUÉM! Ninguém quer viver no subsolo!
Eu simplismente nunca vou vencer o meu passado, aquele que reflete meu presente e escreve meu futuro. Nunca. Nunca vencerei os fantasmas das pessoas que amei por anos... Mesmo meu passado me machucando, ele é a única coisa que ainda me resta.
Apenas sentindo o tédio da busca... O cansaço das sensações ruins. O cansaço de existir.
Só esperar a vida me levar... Apenas isso... Sentindo e causando menos dor possível.